domingo, 25 de abril de 2010

36 anos de 25 de Abril

Sempre 25 de Abril! Que o seja todos os dias em todos os momentos da nossa vida!


As portas que Abril abriu

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais feliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinhiero estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos dos passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas tabém tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com a que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é a força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados "páras"
que não queriam o degredo
de um povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma razão
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua prórpia pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo de mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas era olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que desbobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideias
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio faziam
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
- cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabrões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os genarais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
apenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opões àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
Em em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
de um país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua prórpia grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viesses ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
e ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisa em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

José Carlos Ary dos Santos
(Lisboa, Julho-Agosto de 1975.)

Job description...

Há uns dias a esta parte não consigo deixar de pensar em acontecimentos e factos, não que se passem com a minha pessoa, entenda-se, que entram pelos meus ouvidos como farpas bem aguçadas, que depois fazem com que o meu pequeno cérebro não deixe de pensar neles, talvez por ferirem a pouca alma que me resta... Ouço histórias (ou serão estórias?) de sucessos (ou pseudo-sucessos) sociais e profissionais que algumas pessoas atingem sem nada fazer, sem um pequeno esforço para mudar de vida, mas que tudo lhes vem parar às mãos. Não pensem que é inveja ou que estou a fazer juízos de valor depressiativos, apenas estou a fazer constatacões. Olhemos para os jogadores dos vários clubes e das várias modalidades desportivas... Pensemos nos imensos cantores portugueses, nos manequins, em alguns funcionários públicos, em alguns apresentadores de programas de entretenimento de tv... Pergunto: qual será a formação académica da maioria deles? Que cultura geral possuem? Não irei responder, fica ao critério de cada um em especial. Mas são essas pessoas que ganham não sei quantos ordenados mínimos por mês, são essas pessoas que são convidadas para festas e eventos sociais. Contudo, também são essas pessoas que fazem cada figurinha... sempre em escândalos... sempre com algo nas suas vidas para aparecerem nas revistas cor de rosa... E agora pergunto: onde fica o bom senso dessas pessoas que muitas vezes se ridicularizam e nem sabem estar em sociedade? Onde está a sensatez em vez de pensarem que têm o rei ou a rainha na barriga? Onde está a simplicidade dessas pessoas? Penso e pensarei neste assunto, pois se é por terem uma cara e um corpo bonitos ou engraçados... terei de refazer os meus conceitos de beleza...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nada de nada


Não é que seja preguiçoso, mas hoje não tenho nada para fazer, aliás, nada me dizem o que fazer.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Inveja

Sinto a presença de uma nuvem bem carregada por aqui.... Inveja? Não têm de ter, até porque não faço nada senão aquilo que me mandam fazer... Mas o certo é que inveja atrai mau ambiente e negativismo. Vou ter de tomar um banho de sal grosso como dizem por aí, ou seguir em frente e cagar no resto? Tenho a hora de almoço para reflectir...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Leio...

... Ouço... e cada vez mais chego à conclusão da falsidade das pessoas... Dizem para ficar bonito, para as poderem gabar, porque os amigos até acham graça... A mim, parece-me totalmente descabido e falso. Fica na consciência de cada um em particular e de todos em geral... Irritam-me pessoas dessa estirpe...

Quase


Só mais umas horas de espera! :)

Words

Por vezes fico a pensar nas palavras e no seu significado. Palavras que me foram proferidas, escritas... Palavras que no conjunto me transmitem uma mescla, uma panóplia de sentimentos... Muitas delas foram apagadas do meu dicionário, outras ficaram cravejadas no meu peito, sem que me pedissem autorização para permanecerem... Palavras que nunca esquecerei, e por isso, não mais voltarei a ser o mesmo...
Hoje, as palavras que ouço diariamente são totalmente contrárias às que ficaram cravejadas em mim. Palavras que me invadem a todo o instante, que me dão forças, que me querem bem... e é com essas palavras, que todas juntas me transmitem uma ideia, um pensamento, que quero peermanecer... são a minha derme, fazem parte integrande de mim, da minha pessoa, do meu ser... Quero-me embrenhar nessas palavras... Quero senti-las... Quero vivê-las... Quero que façam parte do meu vocabulário e da minha vida... As anteriores levou-as o vento!...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Monstro

E quando a noite chega, se desliga o pc, a luz e a tv, parece que somos vigiados pelo monstro escuro que desce sobre nós, directamente do tecto, e fica a observar-nos para nos poder atacar quando estivermos mais frágeis e vulneráveis pelo sono. Mas esse sono tarda, pese embora o cansaço corporal e mental... Fixo o olhar na imagem de pau preto que tenho por cima do camiseiro: - ela nada me diz, todavia, continuo a fitá-la no escuro do meu quarto. Sinto o respirar do monstro na minha nuca. Não tenho medo. Quanto mais próximo de mim ele está, mais força eu tenho para olhar a luz da lua, que outrora foi minha madrinha, que silenciosamente entra pela fresta da persiana. Neste momento o meu mundo é essa fresta. A luz fusca que faz com que o monstro recue no seu ataque.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quem come...

Enquanto tomava o meu café matinal, sim, eu preciso de um café logo pela manhã, não para acordar nem ficar bem disposto, mas porque gosto de café,ouvi uma expressão que me deixou a pensar, a qual partilho aqui sem qualquer comentário, pois a expressão é esclarecedora por si só:
«Quem come a carne que coma os ossos».

domingo, 4 de abril de 2010

Domingo de Páscoa

O dia começou bem cedo para os últimos preparativos esperando a família que chagava aos poucos, e para receber a visita Pascal com o anúncio da vitória da vida sobre a morte. Domingo de Páscoa é sinónimo de família, de alegria, de receber visitas e de visitar os nossos amigos e familiares que praticamente só vimos uma ou duas vezes por ano... Dia também de exageros alimentares... A importância de um Homem é tão grande, que por Ele, os valores e os laços familiares se tornam mais fortes e mais enriquecedores. E ver a crianças em casa, impacientes, à espera que os padrinhos lhes levem o folar, é um ritual que ainda hoje perdura nos nossos tempos... Que a alegria da Páscoa viva sempre em nós.

Ressurrexit! Aleluia!

Que Ele viva sempre no mais íntimo do nosso ser!

Uma Santae Feliz Páscoa para todos!