sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Salve, Pater!



Partiste! Não me abandonaste!

Sou depositário do teu nome, da tua alegria, do teu braço enrolado e apertado no meu pescoço para me beijares, para encostares a tua cara na minha.

Todos os dias me recordo do bem que fizeste. Diariamente vejo o teu retrato, mas muito mais do que isso, trago-te no meu coração, bem o sabes.


Fazes falta! Como criança que fui, que sou, tenho-te como depositário da verdade, feitor de grandes prodígios, porquanto és sujeito de definição.

Por vezes a vida torna-se um cais apodrecido. Mas em cada nascer da aurora estás no mais íntimo do meu ser. Sei que me ajudas. Sei que és um guia para todos nós. Sei que podemos contar sempre contigo, pois cuidas de todos nós. Sentimos a tua força.


Custa! Doi! Magoa!

Estás melhor agora. Tens a paz que te tiraram durante anos. Encontraste a outra felicidade, a eterna, a alegria de viver.

Não é romaria o que faço todas as semanas. É carinho, dedicação, amor e agradecimento por tudo o que por mim fizeste. Faz-me bem. Recordo. Faço uma retrospecção. Lembro-me de episódios da tua vida, da nossa vida. Recordo as gargalhadas que davas quando te chamava «pataco»; as asneiras que verbalizavas ( a tua única forma verbal de comunicar) quando brincava contigo e te puxava o nariz.

Nunca mais consegui dizer a tal palavra. Nem a consigo escrever. Detesto quando os outros ma dizem. Será que foi uma despedida? Uma premonição? Trago esse momento dentro de mim, recordo-o muitas vezes e não gosto. Trago dentro de mim o teu olhar penetrante, duradouro, de admiração, como que se me estivesses a dizer para ficar.

Se adivinhasse tinha ficado. Tinha passado os teus ultimos minutos ao teu lado. Pegar-te na mão. Dar-te algum conforto, alento. Mas não. Deus assim não o quis.

Mas as nossas vidas seguiram o rumo natural. Hoje, mais conformados, sabemos que foi o melhor para ti, talvez não o melhor para nós, para mim, mas quem sou eu para mandar nos desígnios da vida?


Fazes falta! Já não somos como antigamente. Dispersámo-nos. Tu sabes o que quero dizer. É pena. Eras o elo, o pilar da família, mesmo na condição de vida em que te encontravas.


Bem-haja por tudo o que me deste. Posso não ser modelo para muita gente, mas deste-me coisas importantes: educação, amor, educação e valores. Princípios que ainda hoje perduram e sigo.

Obrigado por me teres educado da maneira como o fizeste.

Obrigado por seres meu pai.

Obrigado por te fazeres sentir na minha vida.



Partir não é morrer, é viver eternamente saudosos.


Salve, pater!




Rogério Quintalheiro

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Rosto de prata


E quando o sol se aparte e as nossas mãos se tocam, unem, todo o mundo deixa de existir. Existimos apenas nós, amantes noctivicos. Temos como madrinha a lua, reflectindo o teu rosto na escura mensidão da noite, deixando ver o teu rosto, o teu olhar sedutor e carinhoso, pedindo um afecto, um beijo, uma carícia.
Quando repousas a tua cabeça no meu ombro, no meu peito, sinto a tua pele a palpitar, a fervilhar como um vulcão.
E quando por fim te deixas embalar pelo cansaço, de olhos cerrados e corpo quente, aquela luz de prata, a madrinha, deixa-me admirar o teu sono, a tua face prateada, o teu repouso, que tranquilamente dorme junto ao meu rosto, sentindo a tua leve e intensa respiração.
Rogério Quintalheiro